Manaus dos manáos - manauense ou manaura - eis a questão


Certa vez estava num estúdio de TV e a apresentadora diante da figura que seria entrevistada virou-se e perguntou se o correto era manauense ou manauara os nascidos em Manaus. De imediato a “douta” figura foi categórica em afirmar que o corretíssimo era manauense.

Não deixei por menos, nem tanto sábia senhora e lavrei o verbo: são categorias linguisticamente, historicamente e politicamente diferentes. Linguisticamente, manauense expressa o lusitanismo demarcado pelo sufixo da língua portuguesa.

Manauara assenta-se na língua geral amazônica também conhecida como nheengatu, em destaque o sufixo “ara” de difuso significado, mas que neste contexto restrito quer significar “terra dos manaós”.
Historicamente porque a grandeza do significado denuncia o processo de colonização e, sobretudo, a luta pela descolonização na Amazônia manifesta no grito dos povos indígenas do Rio Negro – no século 18 - sob a regência do chefe indígena Ajuricaba.

Fato este relacionado diretamente com a questão política. Pois, quando em nome da língua de Camões exaltamos a terminologia “manauense” o interlocutor talvez por ignorância ou por domínio da prática colonial genocida queira perpetuar o preconceito e discriminação nestas paragens definidas pela diversidade cultural e linguística.

Saibam os menos atentos que a Língua Geral Amazônica na província do Rio Negro tem sido a língua identitária frente à língua nacional, em destaque o município de Tapuruquara batizado pela Igreja como Santa Izabel do Rio Negro, localizado a noroeste do Estado do Amazonas.

Ademir Ramos
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